Francisco Freitas critica proposta da reitoria e defende a elaborada pelo DCE
Publicada em 25/06/10
Junto com colegas do departamento, Freitas é a favor de prova dissertativa
Ele tem sido presença constante nos debates com a pró-reitoria de Graduação quando se trata de uma nova proposta de ingresso dos estudantes na UFSM. Mas isso não é sem motivo. O professor Francisco Freitas, do departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação, estuda pelo menos desde 2008 uma proposta alternativa, que não passe pelo PEIES e, ao mesmo tempo, que não seja igual ao vestibular. Esses estudos foram elaborados com outros colegas de departamento, entre os quais, os professores Guilherme Corrêa e Décio Auler. Com base nesse estudo mais aprofundado é que Francisco tem se manifestado contrário à proposta da reitoria. Segundo ele, o é proposto pela Administração Central mantém a estrutura atual do PEIES, dando-lhe apenas “uma cara nova”.
E por que a contrariedade ao PEIES? No entendimento de Francisco Freitas, o processo de seleção de estudantes, criado há 15 anos, se preocupa em formar um aluno apenas para o mercado de trabalho. “Os conteúdos aplicados nas escolas são engessados, baseados naquilo que a UFSM define, tirando a autonomia do educador”. Conforme o professor, apesar de a reitoria afirmar que esses conteúdos são discutidos com as escolas, na prática, ele, que orienta estagiários em diversas escolas de Santa Maria, não percebe que haja efetivamente um diálogo.
Freitas aponta outros motivos para que a reitoria defenda vigorosamente a sua proposta como a melhor. Para ele, ao tentarem puxar o processo de seleção para o mês de dezembro, tentam realizar um jogo contábil em relação ao orçamento da instituição. E, também, diz ele, a manutenção de um processo seletivo que seja semelhante ao PEIES representa uma solução custo-benefício mais econômica do que querer “repensar” toda uma metodologia já existente.
Mesmo considerando que a proposta de ingresso elaborada pelos estudantes, através do DCE, não é exatamente a dos seus sonhos, Francisco Freitas a defende. Para destacar as diferenças, é importante ressaltar que a reitoria propõe uma forma de ingresso seriada, com três provas, uma em cada série do segundo grau, e ainda uma quarta prova, que seria semelhante a um vestibular, sendo unificada. A novidade é que quem não estiver estudando no momento, mas que já tenha concluído o ensino médio poderá realizar o processo seletivo. Entretanto, o professor do departamento de Metodologia do Ensino acredita que essa iniciativa tem pouca relevância. Segundo ele, quem está fora do sistema de aprendizagem certamente terá mais dificuldade em assimilar os conteúdos, por estar descontextualizado.
QUALIDADE- O motivo que leva o professor Francisco Freitas a defender a proposta dos estudantes é o fato de eles incluírem em uma segunda fase do processo de seleção a existência de uma prova “dissertativa”. Na primeira fase seletiva, eles propõem a utilização do “novo ENEM”. No caso da prova dissertativa, seriam realizadas por iniciativa da universidade audiências públicas para definir 10 temas transversais que seriam trabalhados nas escolas. Isso, conforme o professor, resultaria na inserção das escolas e da própria universidade em uma lógica de trabalhar a realidade da região. “Dessa forma pode ser dada uma visão de multiplicidade sobre um mesmo tema, recuperando a relação entre função, prática, educação e o contexto social”.
A proposta do segmento estudantil foi elaborada tomando ao menos uma parte do que foi pensado por Freitas e seus colegas do departamento de Metodologia do Ensino. A ideia original seria de ter, numa primeira fase do processo seletivo, a possibilidade de o concorrente à vaga escolher, dos seus 17 anos de estudos, as melhores notas do histórico escolar ao longo dos últimos 10 anos. Já a segunda fase seletiva seria exatamente da forma defendida pelo DCE.
Ao trabalhar com a proposta da prova dissertativa baseada em 10 temas escolhidos, o professor ressalta que isso romperia com a lógica existente hoje que é a da centralização das decisões em cima da Comissão do Vestibular (Coperves). Francisco Freitas explica que cada área, ou seja, cada Centro de Ensino criaria uma comissão de professores que seria responsável por dialogar com as escolas sobre esses conteúdos. “É justamente a questão da descentralização que parece assustar muitas pessoas, pois não é fácil perder fatias de poder”, observa ele.
Em todos os debates que têm ocorrido, Freitas ressalta que tem sido usado o argumento de que qualquer processo seletivo tem que ser isonômico. Entretanto, segundo o entendimento dele, tanto o PEIES como o que foi proposto agora pela reitoria não são “pedagogicamente isonômicos”. Conforme Freitas, quando se fala em currículo, a compreensão é de que este possui uma parte com conteúdo fixo e outra com conteúdo diversificado. “Os processos de seleção construídos pela universidade se preocupam com a parte fixa dos conteúdos, ignorando o que seria diversificado, justamente o aspecto que a proposta que inclui a prova dissertativa contempla”, explica ele.
Na próxima quinta, 1º de julho, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) se reúne para discutir e votar a proposta de ingresso apresentada pela reitoria. Já quanto à proposta apresentada pelos estudantes, e que tramita nas comissões do CEPE, não se sabe se já será analisada pelo plenário do Conselho.
Texto e foto: Fritz R. Nunes
Ass. de Impr. da SEDUFSM