quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Promotoria quer esclarecimentos de Valdeci e Schirmer sobre licitações não realizadas

Texto da Assessoria de Imprensa do MP, assinado por Maurício Araújo e também disponível no site do jornalista Claudemir Pereira.

Promotoria quer esclarecimentos de Valdeci e Schirmer sobre licitações não realizadas

O Ministério Público, através do Promotor de Justiça, João Marcos Adede y Castro, titular da 2º Promotoria de Defesa Comunitária, ajuizou uma Ação de Improbidade Administrativa contra o ex-prefeito de Santa Maria, Valdeci Oliveira e contra o atual Prefeito, Cezar Schirmer. O motivo é por ambos terem se omitido em realizar licitação para a contratação de empresas de transporte coletivo urbano.

Segundo o MP, ao longo do tempo, as empresas vinham prestando serviços através de renovações de contratos ilegais e os prefeitos citados tinham a obrigação legal de realizar uma licitação para seleção de empresas. As penas, em caso de procedência da Ação, vão desde a cassação de mandato, perda de cargo ou emprego público, inelegibilidade e até multa civil.

Até 1988, era possível contratar sem licitação, mas a partir da Constituição Federal de 1988, todos os municípios são obrigados a realizar licitações para seleções de empresas. Valdeci e Schirmer são os únicos réus porque a lei de Improbidade fixa um prazo de cinco anos após o fim do mandato para a prescrição de ação de Improbidade.

A Ação foi distribuía para a primeira Vara Cível Especializada em Fazenda Pública de Santa Maria. Os réus serão notificados a prestar esclarecimentos e informações, e terão o prazo de 15 dias para contestar.”

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

VITÓRIA! MP ingressa com Ação Cívil contra o Município de Santa Maria, exigindo licitação no transporte público!

por Maurício Araújo, da Assessoria de Imprensa do Ministério Público Estadual, material disponível também no site do jornalista Claudemir Pereira.


MP requer que seja feita licitação para seleção de empresas de transportes coletivos urbanos

O Ministério Público ingressou com uma Ação Civil Pública contra o Município de Santa Maria para que seja obrigado a realizar uma licitação para seleção de empresas de transportes coletivos urbanos. O MP pede o cancelamento dos contratos das atuais empresas, e que seja feita uma licitação, no prazo de 60 dias, sob pena de multa diária.

A Ação foi ajuizada pelo Promotor de Justiça Especializada de Defesa Comunitária, João Marcos Adede y Castro, que também pede que as empresas, atualmente prestadoras dos serviços na cidade, continuem prestando-os até que os novos selecionados assumam as responsabilidades.

Segundo o MP, as empresas de transportes coletivos que hoje prestam os serviços, foram contratadas na década de 1970, sem nenhuma licitação, tendo, somente, seus contratos ilegalmente renovados com o passar dos anos.

A Ação foi distribuída para a primeira Vara Cível Especializada em Fazenda Pública de Santa Maria. O município tem o prazo de 60 dias, após a notificação, para contestar.






Vale lembrar que desde o começo do ano o DCE da UFSM, a partir da Coordenação Jurídica, vem denunciando a ausência de licitação, tendo entrado com uma denúncia no MP no mês de junho. A íntegra da Representação pode ser conferida aqui e aqui.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A busca incansável por um feminismo dócil, ou, não é de você que devemos falar

por Idelber Avelar ( do blog o Biscoito Fino e a Massa )
Uma das coisas que aprendi sendo amigo e interlocutor de Mary W é que a própria resistência (entendida em sentido freudiano) ao feminismo é um fenômeno sociologicamente interessante, um dado a se estudar, um caso, diria a Mary, com sua sintaxe e seu uso do negrito inconfundíveis. Essa sacada dela coincide com algo que eu lhe disse certa vez durante um chope: quando homens emitem “opiniões” sobre o feminismo, elas não costumam vir embasadas em bibliografia ou sequer em escuta da experiência das mulheres narrada por elas próprias. Arma-se alguma capenga simetria entre machismo e feminismo, decreta-se que “as” feministas são isso ou aquilo e encerra-se o assunto sob viseiras, em geral acompanhado de algum choramingo contra “elas”, que são “radicais” ou “patrulheiras” (confesso que “barraqueira” eu ouvi pela primeira vez esta semana), sem que nenhum esforço tenha sido despendido na escuta do outro, neste caso na escuta da outra. Note-se, por favor (já que malentendido, teu nome é Internet), que não me refiro a uma opinião sobre tal ou qual leitura feminista de tal ou qual texto de Clarice Lispector, mas às emissões de “opinião” sobre o que “é” o feminismo. Essas, invariavelmente, são um desastre.

Essa prática sempre me pareceu espantosa, porque ninguém, nem mesmo um daqueles jornalistas mais caras-de-pau de MOSCOU, se arriscaria a ter “opinião” sobre, digamos, fenomenologia ou hermenêutica sem antes equipar-se minimamente para tanto. Todavia, sobre o feminismo, uma constelação de pensamentos, escritas e práticas políticas das mulheres não menos complexa, multifacetada, ampla e profunda que aquelas duas escolas, e sem dúvida mais influente que ambas, os homens, em geral, e com visível desconforto e pressa, acham que podem ter “opinião”, passar juízo, assim, sem mais nem menos, sem sequer dar um checada nas estatísticas de violência doméstica, estupro ou diferença salarial entre homens e mulheres ou ouvir uma feminista. Não falemos de ler alguma coisa de bibliografia, uma Beauvoir ou Muraro básica que seja. Acreditam sincera e piamente que essa sua atitude não tem nada a ver com o machismo.

Quando esses homens são confrontados por uma feminista, seja em sua ignorância, seja em sua cumplicidade com uma ordem de coisas opressora para as mulheres, armam um chororô de mastodônticas proporções, pobres coitados, tão patrulhados que são. Todos aqueles olhos roxos, discriminações, assédios sexuais, assassinatos, estupros, incluindo-se estupros "corretivos" de lésbicas (via Vange), objetificações para o prazer único do outro, estereotipia na mídia, jornadas duplas de trabalho, espancamentos domésticos? Que nada! Sofrimento mesmo é o de macho “patrulhado” ou “linchado” por feministas! A coisa chega a ser cômica, de tão constrangedora.

Desfila-se todo o rosário dos melhores momentos do sexista: como posso ser machista se tenho mãe, mulher e filha, como posso ser machista se quem passa minhas roupas é uma mulher, como posso ser machista se de vez em quando 'divido' o serviço doméstico com ela, como podem considerar o feminismo um elogio se o machismo é um insulto, por que as feministas ficam nos dividindo, por que as feministas ficam sendo radicais demais e a longa lista de etecéteras bem conhecida das mulheres que têm um histórico de discussão do tema. Os caras sequer são capazes de renovar os emblemas frasais de sua ignorância.

Foi o caso, nestes últimos dias, de alguns dos blogueiros autoidentificados, a partir de um encontro recente em São Paulo, como “progressistas” (não está muito claro de onde vem nem para onde vai esse “progresso” nem em que consiste o “progredir”, mas é evidente que sou ferrenho defensor da primazia da autoidentificação: que cada um se chame como gosta, contanto que me incluam fora desta; este é um blog de esquerda). O progressismo blogueiro é visivelmente masculinista, e que ele reaja com tão ruidosa choradeira ao mero aflorar de uma crítica feminista é só mais uma óbvia confirmação do fato.

O acontecido já foi relatado por Cynthia Semíramis e Lola Aronovich, e só me interessa aqui como sintomatologia do blogueiro progressista que faltou à aula em que o feminismo explicava em detalhe como o pessoal está imbricado com o político, como a apropriação e a simultânea desqualificação do trabalho das mulheres têm sido componentes históricos de uma hierarquia de gêneros que se impõe com tremenda brutalidade. O blogueiro progressista provavelmente nem notou que o Jornal Nacional mais uma vez se permitiu comentários sobre a aparência de Dilma que jamais se permitiria sequer sobre Lula. Mas a Marjorie Rodrigues notou.

Uma das características do masculinismo progressista é sua tremenda dificuldade em entender a lição de Ana que, escrita num contexto de discussão do racismo, também se aplica aqui: não é sobre você que devemos falar. Não é sobre seu umbiguismo, não é sobre seu desconforto, não é sobre a sua necessidade de que as feministas sejam dóceis (ou não “divisionistas”) o suficiente para que possam carimbar e avalizar o seu tranquilizador atestado de boa consciência. Pra isso o Biscoito Fino e a Massa recomenda outra coisa: psicanálise freudiana. No Brasil de Lula e Dilma, já não é coisa tão cara, pelo menos para a maioria dos que leem esta bodega.

O progressismo blogueiro refletiu pouco, me parece, sobre como até suas referências a si próprio estão encharcadas de sexismo. O encontro progressista em São Paulo (que contou com interlocutores e amigos meus, que foi uma bela iniciativa à qual fui convidado, e a cuja continuação eu desejo sucesso) foi, em várias ocasiões, apresentado por seus principais protagonistas, quase todos homens, como “o” encontro de blogueiros, “o primeiro encontro” nacional, “a primeira grande” reunião.

Ora, o que isso tem a ver com o sexismo?

O progressismo blogueiro formado por homens jornalistas oriundos da grande mídia ou pautados por ela desconhece tanto a história de blogolândia que, como diria Macedonio Fernández, se a desconhecesse um pouquinho mais, já não caberia nada. Isso não seria problema se ele não tivesse a pretensão de falar em nome de uma totalidade "progressista". A primeira pessoa levada a um portal por seu trabalho em blogs foi uma mulher, Daniela Abade. A primeira vez que em um livro foi vendido via blogs aconteceu também num blog feminino, o Udigrudi. Talvez a mais massiva troca de experiências e formação de comunidade num livro de visitas de blog ocorreu pelo trabalho de duas mulheres feministas. Refiro-me ao Mothern de Laura Guimarães e Juliana Sampaio, que também representou a primeira vez em que um blog virou série de televisão. A mais longeva comunidade blogueira em atividade na rede provalvemente é a do imperdível Drops da Fal. Cynthia Semíramis, a feminista cujo texto-resposta foi recusado no espaço que transformou “feminazi” em post, tem mais história na rede que qualquer das lideranças masculino-jornalístico-progressistas (é coautora, por exemplo, de um texto clássico sobre a questão jurídica na internet). De Marina W a Cláudia Letti a Meg Guimarães, há uma história de pioneirismo de mulheres em blogolândia que se deveria conhecer com mais interesse e humildade, se é que a palavra "progressista" vai preservar ainda um farrapo de relação com alguma experiência que possa ser chamada de emancipatória.

Confesso que sinto um pouco de vergonha alheia quando vejo blogueiros progressistas referindo-se ao seu (notadamente importante, sublinhe-se) encontro como “o” encontro de blogueiros ou como “a primeira” reunião ou a si próprios como “os” progressistas. Tudo isso enquanto ignoram completamente a história que lhes precede, na qual o protagonismo feminino é indiscutível. Na história que lhes é contemporânea, o protagonismo feminino não é nada desprezível tampouco, mas também a ignoram.

O jornalismo masculino progressista não apenas desconhece essa história. Ele não parece interessado em conhecê-la, não suspeita que familiaridade com ela problematizaria alguns elementos de sua prática. Fazendo tantas referências adâmicas a si próprio, contribui para a invisibilização e o silenciamento da história de blogolândia construída pelas mulheres. Daquele jeito convicto bem próprio dos ignorantes em denegação, o blogueiro jornalista-progressista jura que isso que não tem nada a ver com o machismo. Provavelmente ele não também não se perguntou se essa invisibilização terá algo a ver com vícios oriundos de 100 anos de um modelo em que jornalistas, quase sempre homens, falavam, na maioria das vezes sobre assuntos que domina(va)m assombrosamente mal, e leitores e leitoras recebiam calados.

Caso o jornalismo blogueiro masculino progressista tenha inteligência, humildade e decência, escolherá escutar o que sobre o feminismo disseram as próprias feministas. A bibliografia não é exatamente pequena. Sempre se pode começar com O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, passar à Mística Feminina, de Betty Friedan, chegar a Problemas de Gênero [pdf], de Judith Butler, escolhendo, no caminho, mil outras veredas possíveis. Pessoalmente, sou fã da polêmica que se dá entre as feministas materialistas britânicas, em que uma teoria mais funcionalista das relações entre opressão de classe e opressão de gênero se enfrenta com uma teoria entitulada "sistemas duais", que argumentava pela independência relativa entre capitalismo e patriarcado (embate sociológico dos bons, nos quais nunca, claro, se fixa uma conclusão, mas durante os quais se exploram hipóteses interessantes). Essa polêmica está apresentada num livro de Michelle Berrett, intitulado Women's Oppression Today, que seria uma ótima pedida traduzir. De Patrícia Galvão a Rose Marie Muraro, é possível informar-se, um pouquinho que seja, sobre a história no Brasil.

Ninguém é obrigado a ser inteligente o tempo todo, mas quando se trata de aprender a escutar, humildade e decência costumam ser as duas qualidades mais importantes da trinca.


PS: A primeira oração do título é tirada de um texto de Paulo Candido. A segunda é tirada de um texto de Ana Maria Gonçalves. Na foto, Alexandra Kollontai, líder feminista da Oposição Operária russa da década de 1920 (daqui).

PSTU: Registro com alegria e gratidão que passei a fazer parte da seletíssima lista de recomendações do Blog do Sakamoto. Obrigado, Leonardo, a quem leio há tempos.

PSTU do B: O grupo que chamo neste texto de jornalismo blogueiro masculino progressista inclui desde amigos queridos e/ou pessoas que genuinamente admiro até pessoas com a qual tenho interlocução protocolar, com variados graus de interesse, até pessoas a quem não costumo ler. Ao contrário do que sempre faz este blog quando discorda de alguém, desta vez o grupo vai nomeado assim, no abstrato, sem links nem nomes, não porque ele seja homogêneo, mas porque, afinal de contas, não é de você que devemos falar.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

VIII Estágio Interdisciplinar de Vivência



quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Confira as 20 metas que compõem o Plano Nacional de Educação 2011-2020

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil


Brasília - O projeto de lei que institui o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que deverá vigorar nos próximos dez anos, foi entregue dia 14 pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento estabelece 20 metas a serem alcançadas pelo país até 2020. O texto também detalha as estratégias necessárias para alcançar os objetivos delimitados.



Conheça as metas que compõem o Plano Nacional de Educação 2011-2020:


Meta 1: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos.

Meta 2: Criar mecanismos para o acompanhamento individual de cada estudante do ensino fundamental.

Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária.

Meta 4: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.

Meta 5: Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os 8 anos de idade.

Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.

Meta 7: Atingir as médias nacionais para o Ideb já previstas no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)

Meta 8: Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.

Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.

Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.

Meta 11: Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.

Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.

Meta 13: Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores. Sete estratégias.

Meta 14: Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores. Nove estratégias.

Meta 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.

Meta 16: Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.

Meta 17: Valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente.

Meta 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino.

Meta 19: Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.

Meta 20: Ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

CNI atuou para atrasar projeto que não reconhece patentes anti-Aids




A CNI (Confederação Nacional da Indústria) fez lobby na Câmara dos Deputados em favor de farmacêuticas multinacionais para retardar a tramitação do projeto de lei que deixa de reconhecer patentes de drogas anti-Aids no Brasil. A proposta tramita há sete anos.

A negociação foi incentivada pela Embaixada dos EUA no Brasil, em 2005.


"Incentivamos que as empresas farmacêuticas dos EUA trabalhem junto com a CNI para montar uma estratégia de melhor informar o Congresso brasileiro sobre as potenciais consequências negativas das licenças compulsórias", diz trecho de telegrama assinado pelo ex-embaixador John Danilovich.


O documento faz parte dos despachos obtidos pelo site WikiLeaks. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado aos papéis.


À época, era grande a tensão em torno da ameaça de quebra de patente de medicamentos anti-Aids. Em 2007, o governo Lula determinou o licenciamento compulsório do remédio Efavirenz, do laboratório americano Merck Sharp & Dome.


Danilovich relata que o Ministério da Saúde vinha fazendo lobby para aprovação do projeto e diz que, de acordo com o embaixador Clodoaldo Hugueney, o melhor seria que as empresas trabalhassem junto ao ministério para dissuadi-lo.


"Ele também salientou a importância de parar a legislação no âmbito do Congresso", diz outro trecho.


Já Otávio Brandelli, da Divisão de Propriedade Intelectual do Ministério das Relações Exteriores, sugeriu, ainda segundo Danilovich, que as farmacêuticas se aproximassem de Eduardo Campos, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, outro possível aliado no governo Lula.



OUTRO CASO


A preocupação em proteger as patentes de medicamentos também aparece no relato sobre o caso do laboratório americano Gilead.


Em 2008, a empresa teve pedido de patente rejeitado para um droga anti-Aids (Tenofovir). A alegação do departamento de patentes do país foi falta de inovação tecnológica. Para o governo, isso abrirá caminho para a produção de genéricos do medicamento.


Em despacho de 2009, a Embaixada dos EUA reconhece que, em razão das eleições deste ano, os temas propriedade intelectual e proteção de patentes não teriam espaço para discussão.


"Dada a crença popular de que as patentes farmacêuticas beneficiam as empresas multinacionais em detrimento do público brasileiro, as reformas para fortalecer o sistema de patentes do Brasil não são votos vencedores e, portanto, não são suscetíveis de serem buscados ao longo dos próximos 12 meses", diz um despacho, da diplomata Lisa Kubiske.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Nesta Quinta tem pré- Estágio Interdisciplinar de Vivência

Nesta Quinta tem pré- EIV

Nesta quinta teremos mais uma atividade preparatória para o EIV Santa Maria(Mais informações pelo BlogEsta atividade é fundamental para entender um pouco mais sobre o EIV e será incluida como critério de participação. Contará com a presença da Coordenação Nacional do MST. Venha conhecer a realidade da Reforma Agrária no RS.
ONDE? União Universitária
QUANDO? Quinta Feira 16/12 as 19hs.

HáBraços na Luta,

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Hackers assumem bandeira do WikiLeaks para iniciar 1ª 'Guerra da Informação'


Washington, 8 dez (EFE).- Um Exército de hackers voluntários está agindo em defesa do site WikiLeaks e entrou na disputa cibernética protagonizada por ataques e contra-ataques envolvendo a polêmica homepage, que divulga importantes documentos secretos pelo mundo, dando início assim à primeira 'Guerra da Informação'.

A "Operation Avenge Assange" (Operação Vingar Assange), organizada por hackers após o cerco internacional contra o WikiLeaks e seu criador, Julian Assange, conseguiu nesta quarta-feira derrubar parte dos sistemas informáticos da rede de cartões de crédito MasterCard, prova do poder da mobilização espontânea através da internet.

O protocolo IRC (Internet Relay Chat) é o ponto de partida do ataque contra a rede MasterCard, ao qual a Agência Efe teve acesso. Nele, o moderador estabeleceu como título "Operação Payback. Alvo: 'www.mastercard.com'. Existem coisas que o WikiLeaks não pode fazer. Para todas as outras existe a Operação Payback".

Por meio de sua conta no Twitter, os responsáveis do grupo "Anonymous" anunciaram por volta das 19h (horário de Brasília) que o novo alvo a atacar era a também rede de cartões de crédito Visa.

Após horas de ataques continuados contra a Mastercard, os ativistas virtuais decidiram apontar suas armas informáticas contra o "Visa.com". "Alvo: 'www.visa.com'. Disparar, disparar, disparar", diziam.

No meio do dia desta quarta-feira, os operadores do IRC informavam que mais de 1.800 bots estavam inundando com Ataques de Negação de Serviços (DDoS) contra o endereço "www.mastercard.com". A empresa reconheceu dificuldades em alguns de seus serviços.

Enquanto isso, outros usuários do protocolo informavam sobre o progresso do ataque com mensagens sobre o estado das operações da Mastercard em países tão distantes como Suécia, Sri Lanka e México, ou sobre a evolução das ações da companhia de cartões de crédito na Bolsa de Nova York.

"A primeira guerra da informação começou. Envie por Twitter e poste isso em qualquer site", proclamava um dos hackers.

Outros solicitavam que o grupo dirigisse seus ataques contra os serviços de PayPal, Visa e inclusive contra a conservadora emissora de televisão "Fox News". No entanto, o grupo de hackers denominado "Anonymous" mantém o ataque contra a Mastercard.

"Por favor, deixem de sugerir novos sites. Os líderes de 'Anon' decidiram que 'mastercard.com' deve permanecer apagado. Dessa forma, afetaremos o preço de suas ações. Obrigado", explicava outro usuário.

Segundo o blog da empresa de segurança virtual Panda, o grupo havia atacado o sistema de pagamentos online PayPal pouco depois de o serviço anunciar o bloqueio financeiro ao WikiLeaks, embora o ataque tenha se limitado a um blog da empresa.

O Panda assinalou que o ataque DDoS contra o "ThePayPalblog.com" durante oito horas fez com que o blog sofresse 75 interrupções de serviço.

O "Anonymous" também conseguiu afetar gravemente o funcionamento do PostFinance, banco suíço que também bloqueou sua conta ao WikiLeaks, e ao escritório de advocacia sueco que representa as duas mulheres que acusaram Assange de estupro e abuso sexual.

Pelas acusações, a Justiça sueca e as autoridades policiais internacionais expediram um mandado de prisão contra o ativista australiano, que não viu alternativa senão se entregar às autoridades do Reino Unido, onde estava vivendo e onde está detido, aguardando a definição sobre se será extraditado à Suécia.

O grupo que organizou o ataque é um coletivo de hackers denominado "Anonymous" e que se reúne habitualmente pelo site "4chan.org", uma simples homepage que é utilizada para divulgar mensagens, fotografias ou simplesmente discutir sobre política.

Este não é o primeiro ataque lançado pelo "Anonymous". Considera-se que o grupo facilitou a identificação e detenção de vários pedófilos, mas talvez uma de suas ações mais conhecidas foi o chamado "Projeto Chanology", iniciado em 2008, para protestar contra a Igreja da Cientologia.

Por causa desse protesto, que incluiu ataques DDoS como os que atingem agora a Mastercard, o grupo adotou a estética da história em quadrinhos "V de Vingança", no qual milhares de pessoas usam uma máscara idêntica ao do enredo para evitar sua identificação pelas autoridades.

No ano passado, o "Anonymous" também se uniu aos protestos contra as eleições iranianas, vencidas pelo líder Mahmoud Ahmadinejad e consideradas fraudulentas pela oposição.

Em seus protestos, o "Anonymous" qualificou seus ataques como "Operation Payback" (Operação Troco, em tradução livre), mas, desde que o WikiLeaks começou a publicar as correspondências secretas da diplomacia americana e o site começou a sofrer assédio de empresas e Governos, o "Anonymous" decidiu lançar a "Operação Vingar Assange".

"O WikiLeaks está apagado por Ataques de Negação de Serviços (DDoS). Há razões para crer que os Estados Unidos estão por trás, devido à natureza do vazamento (de documentos) do domingo 28 de novembro", assinalou o grupo em seu site.

"Embora não estejamos filiados ao WikiLeaks, lutamos pelas mesmas razões. Queremos transparência e combatemos censura", acrescentou o grupo. "Não podemos permitir que isso aconteça".

"Por isso, vamos utilizar nossos recursos para aumentar a conscientização, atacar aqueles contrários e apoiar aqueles que estão ajudando a levar nosso mundo à liberdade e democracia", finalizou a mensagem.

PORQUE JOHN LENNON SE DESTACOU DO RESTO

PORQUE JOHN LENNON SE DESTACOU DO RESTO  por Steve Jones
 
Faz 30 anos que foi morto John Lennon. Por ficar contra a Guerra do Vietnã, por sua oposição ao Governo Nixon e seu apoio aos Panteras Negras, John quase foi deportado dos EUA. Há quem diga que seu assassinato por um fã obcecado tenha sido obra da CIA.
O ex-Beatle, que chegou a ser investigado pelo FBI, classificou sua canção de maior sucesso, 'Imagine', como 'Anti-religião, anti-convencional, anti-nacionalista e anti-capitalista'. Publicamos aqui um artigo de um camarada inglês, Steve Jones, escrito por ocasião dos 25 anos do assassinato de John Lennon, em 8 de Dezembro de 2005.


O 25º aniversário da morte do ex-Beatle, John Lennon, em Nova York em 8 de dezembro de 1980, após levar tiros de um fã perturbado, sem dúvida será marcado com interesse e atenção da mídia por muita gente ao redor do mundo. A manifestação pública de luto e pesar pela morte de uma estrela de rock, só foi igualada – e estamos falando de dentro dos EUA – pela de Elvis Presley (1977) e Jerry Garcia (1995) e em menor grau, Bob Marley e Kurt Cobain.

Muitos outras estrelas do rock e do pop têm dado seu último suspiro ao longo dos anos, alguns sem que ninguém realmente perceba. A semelhança entre estes que mencionamos aqui foi o fato de todos terem tido uma morte prematura e que eram vistos como, de uma forma ou de outra, ícones, cujas vidas tocaram um acorde nas pessoas.

Como um ex-Beatle, a morte de Lennon nunca iria passar desapercebida, mesmo se ele tivesse morrido na terceira idade de causas naturais, mas o efeito que sua morte teve sobre as pessoas - e ainda hoje tem - não pode ser atribuído simplesmente à sua fama. Também não pode ser explicado pelo sucesso de sua carreira solo - porque em comparação com muitos outros, não foi tão bem-sucedida.

Seus primeiros álbuns solo foram em grande parte experimentais e só chegaram a um mercado limitado. Depois, álbuns como "Imagine" e "Mind Games" foram mais vendidos, mas provavelmente hoje não estão em coleções de muitas pessoas. Ele teve algum sucesso com os compactos, mas, novamente, apenas uma canção permaneceu em circulação até hoje - Imagine. Depois de 1975 ele não lançou nenhuma gravação e nem fez show algum, saindo completamente de cena até pouco antes de sua morte, quando ele lançou com sucesso moderado o álbum "Double Fantasy".

Assim, em muitos aspectos, era mais pelo homem do que pela música que as pessoas estavam lamentando. Como um Beatle, John Lennon era visto como sendo o rebelde cujas canções revelavam uma profundidade escondida contra o feliz e comercial (Paul), o insolente e individualista (Ringo) ou o místico maluco (George). Ele também seria o primeiro Beatle a assumir claramente as causas sociais e políticas.

Após o início de seu relacionamento com a artista Yoko Ono em 1968, ele começou uma campanha contra a guerra – “Bed in!” (na cama) – e lançou o hino "Give Peace a Chance" (Dê uma chance à paz). Mais tarde canções que tratavam do racismo, do Vietnã, dos direitos das mulheres e da Irlanda do Norte. Ele era conhecido por apoiar financeiramente causas de esquerda e, como resultado, conseguiu uma ficha um tanto quanto grande no FBI e teve problemas para obter uma licença de trabalho nos EUA.

Depois de sua ruptura com o alcoolismo e com o abuso de drogas, ele também tratou da questão da violência doméstica e do efeito provocado pela bebida nas relações pessoais. Muitas de suas canções a esse respeito estavam profundamente dedicadas a extrair seus demônios interiores, alguns dos quais o levaram de volta à sua infância caótica. Sua vontade de dar uma formação estável a seus filhos o levou diretamente ao período de reclusão do final dos anos 70 quando ele buscou se tornar um “dono de casa”.

No entanto, mesmo nesse retiro, nessa aposentadoria, ele permaneceu um forte ativista pela paz e pela justiça social. Ele teve alguns problemas em em relação a isso por sua enorme fortuna, que ele discutiu em entrevista à revista Playboy:
PLAYBOY: A propósito de sua fortuna pessoal, o New York Post disse recentemente que você teria admitido ser mais de US$ 150 milhões (1980) e...

LENNON: Nunca admiti nada.

PLAYBOY: O Post disse que você admitiu.

LENNON: O que diz o Post? - OK, então nós somos ricos, e daí?

PLAYBOY: A pergunta é: Como isso se adequa à sua filosofia política? Você é supostamente socialista, não é?

LENNON: Na Inglaterra, há apenas duas coisas para ser, basicamente: Ou você apóia o movimento dos trabalhadores, ou o dos capitalistas. Ou você se torna um Archie Bunker de direita se você estiver na classe em que eu estou, ou você se torna um socialista instintivo, que eu era. Isso significava que eu acho que as pessoas deveria ter direito a dentadura, serviço de saúde pelo resto da vida. Mas tirando isso, eu trabalhei por dinheiro e eu queria ser rico. Então oras - se isso é um paradoxo, então eu sou um socialista. Mas eu não sou nada. Eu costumava me sentir culpado pelo dinheiro. É por isso que eu o perdi, seja por doá-lo ou me deixando ser prejudicado por ditos empresários.
Esse dilema à parte, a reputação de Lennon, como um idealista cujos pontos de vista como um militante por uma sociedade melhor, permanece intocada mesmo após décadas de cínicas "reavaliações".

Todo ano, nesta época, sua canção de maior sucesso comercial 'Imagine' fica tocando sem parar no rádio. Mas não é simplesmente uma bela canção de Natal cheia de chavões sem sentido, mas sim expressa uma visão de mundo que muitos de nós estaríamos de acordo:
Imagine que não haja posses
Gostaria de saber se você consegue
Nenhuma necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade de homens
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo...
No momento em que o mundo do rock e do pop parecia estar obcecado em ganhar dinheiro e diversão e não dar a mínima para o resto, e o mundo político estava prestes a ser dominado pelo reacionarismo da dupla Thatcher e Reagan, Lennon foi visto como um ponto de resistência contra essa falta de humanidade. Sua mensagem era a de unidade, paz e um futuro melhor para todos - uma mensagem a que, principalmente, muitos jovens, responderam em 1980 e ainda 25 anos depois:
Você pode dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que algum dia você se junte a nós
E o mundo viverá como um só

É uma mensagem que exige de nós mobilizar a juventude e os trabalhadores do mundo para derrotar o imperialismo e o capitalismo e construir um futuro socialista que fará dessa letra uma realidade.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Wikileaks: O 1º preso político global da internet e a Intifada eletrônica

por Idelber Avelar, Professor, Dept. of Spanish and Portuguese,Tulane University, New Orleans, - 
Julian Assange é o primeiro geek caçado globalmente: pela superpotência militar, por seus estados satélite e pelas principais polícias do mundo. É um australiano cuja atividade na internet catupultou-o de volta à vida real com outra cidadania, a de uma espécie de palestino sem passaporte ou entrada em nenhum lugar. Ele não é o primeiro a ser caçado pelo poder por suas atividades na rede, mas é o primeiro a sofrê-lo de um jeito tentacular, planetário e inescapável. Enquanto que os blogueiros censurados do Irã seriam recebidos como heróis nos EUA para o inevitável espetáculo de propaganda, Assange teve todos os seus direitos mais elementares suspensos globalmente, de tal forma que tornou-se o sujeito mundialmente inospedável, o primeiro, salvo engano, a experimentar essa condição só por ter feito algo na internet. Acrescenta mais ironia, note-se, o fato de que ele fez o mais simples que se pode fazer na rede: publicar arquivos .txt, palavras, puro texto, telegramas que ele não obteve, lembremos, de forma ilegal.
Assange é o criminoso sem crime. Ao longo dos dias que antecederam sua entrega à polícia britânica, os aparatos estatal-político-militar-jurídico dos EUA e estados satélite batiam cabeças, procurando algo de que Assange pudesse ser acusado. Se os telegramas foram vazados por outrem, se tudo o que faz o Wikileaks é publicar, se está garantido o sigilo da fonte e se os documentos são de evidente interesse público, a única punição passível, por traição, espionagem ou coisa mais leve que fosse, caberia exclusivamente a quem vazou. O Wikileaks só publica. Ele se apropria do que a digitalização torna possível, a reprodutibilidade infinita dos arquivos, e do que a internet torna possível, a circulação global da hospedagem dessas reproduções. Atuando de forma estritamente legal, ele testa o limite da liberdade de expressão da democracia moderna com a publicação de segredos desconfortáveis para o poder. Nesse teste, os EUA (Departamento de Estado, Justiça, Democratas, Republicanos, grande mídia, senso comum) deixaram claro: não se aplica a Primeira Emenda, liberdade de expressão ou coisa que o valha. Uniram-se todos, como em 2003 contra as “armas de destruição em massa” do Iraque. Foi cerco e caça geral a Assange, implacável.
Wikileaks é um relato de inédita hibridez, para o qual ainda não há gênero. Leva algo de todos: épica, ficção científica, policial, novela bizantina, tragédia, farsa e comédia, pelo menos. Quem vem acompanhando a história saberá da pitada de cada uma dessas formas literárias na sua composição. O que me chama a atenção no relato é que lhe falta a característica essencial de um desses gêneros: é um policial sem crime, uma ficção científica sem tecnologia futura, uma novela bizantina sem peregrinação, comédia sem final feliz, tragédia sem herói de estatura trágica, épica sem batalha, farsa sem a mínima graça. Kafka e Orwell, tão diferentes entre si, talvez sejam os dois melhores modelos literários para entender o Wikileaks.
Como em Kafka, o crime de Assange não é uma entidade com existência positiva, para a qual você possa apontar. Assange é um personagem que vem direto d'O Processo, romance no qual K. será sempre culpado por uma razão das mais simples: seu crime é não lembrar-se de qual foi seu crime. Essa é a fórmula genial que encontra Kafka para instalar a culpa de K. como inescapável: o processo se instala contra a memória.
O Advogado-Geral da União do governo Obama, que aceitou não levar à Justiça um núcleo que planejou ilegalmente bombardeios a populações de milhões, levou à morte centenas de milhares, torturou milhares, esse mesmo Advogado-Geral que topou esquecer-se desses singelos crimes e não processá-los, peregrinava pateticamente nos últimos dias em busca de uma lei, um farrapo de artigo em algum lugar que lhe permitisse processar Julian Assange. O melhor que conseguiram foi um apelo ao Ato de Espionagem de 1917, feito em época de guerra global declarada (coisa em que os EUA, evidentemente, não estão) e já detonado várias vezes—mais ilustremente no caso Watergate—pela Suprema Corte.

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À semelhança do 1984 de Orwell, o caso Wikileaks gira em torno da vigilância global mas, como notou Umberto Eco num belo texto, ela foi transformada em rua de mão dupla. O Grande Irmão estatal o vigia, mas um geek com boas conexões nas embaixadas também pode vigiar o Grande Irmão. Essa vigilância em mão dupla é ao mesmo tempo uma demonstração do poder da internet e um lembrete amargo de quais são os seus limites. Assange segue preso, com pedido de fiança negado (embora o relato seja que o Juiz se interessou pela quantidade de gente disposta a interceder por ele e vai ouvir apelo) e, salvo segunda ordem, está retido no Reino Unido até o dia 14/12. A acusação que formalmente permitiu a captura é o componente farsescodo caso, numa história que vai de camisinhas furadas em sexo consensual à possíveis contatos das personagens com a CIA.
No campo dos cinco "escolhidos" para repercutir a rede anônima, não resta a menor dúvida: cabeça e tronco acima dos demais está o Guardian, que temtomado posição, feito jornalismo de verdade, e mantém banco de dados com o texto dos telegramas. Brigando pelo segundo lugar, El país e Spiegel, com o Le Monde seguindo atrás. Acocorado abaixo de todos os demais, rastejante em dignidade e decência, o New York Times, que se acovardou outra vez quando mais era de se esperar jornalismo minimamente íntegro. A área principal da página web do jornal, na noite de 07/12, não incluía uma linha sequer sobre a captura que mobilizou as atenções de ninguém menos que o Departamento de Estado:

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Enquanto isso, a entrevista coletiva de Obama acontecia com perguntas sobre o toma-lá-dá-cá das emendas entre Republicanos e Democratas, e silêncio sepulcral sobre o maior escândalo diplomático moderno dos EUA. Nada como a imprensa livre.
A publicação dos telegramas não para, evidentemente, no que é outra originalidade do caso: a não ser que você acredite que a acusação sexual na Suécia foi a razão real pela qual o aparato policial do planeta foi mobilizado para prender Assange, cabe notar que o “crime” que motivou a prisão continuará sendo praticado mesmo com o “criminoso” já capturado. O caso Wikileaks inaugura o crime que continua acontecendo já com o acusado atrás das grades: delito disseminado como entidade anônima e multitudinária na Internet. 100.000 pessoas têm os arquivos do Cablegate, proliferam sites espelho com os telegramas já tornados públicos. E a Intifada está declarada na rede, com convocatórias a ataques contra os sites que boicotaram o Wikileaks.
Atualização: e os EUA estão mesmo tentando com os britânicos e suecos a extradição de Assange para processá-lo por ... espionagem!
Atualização II: No Diário Gauche, há um belo vídeo com entrevista de Assange em Oxford, com legendas e tudo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dia Mundial de Luta Contra a Aids 2010

No dia 1° de dezembro, vários países comemoram o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Essa data foi instituída como forma de despertar a necessidade da prevenção, promover o entendimento sobre a pandemia e incentivar a análise sobre a aids pela sociedade e órgãos públicos. No Brasil, a data começou a ser comemorada no final dos anos 1980, envolvendo os governos federal, estaduais, distrital e municipais e organizações sociais.
Este ano, a campanha do Dia Mundial tem como público primordial os jovens de 15 a 24 anos. Essa escolha foi feita ao se levarem em consideração dados comportamentais como o maior número de parceiros casuais dos jovens em relação aos não-jovens e o elevado índice de jovens (40%) que declaram não usar preservativo em todas as relações sexuais.
Os objetivos da campanha são desconstrução do preconceito sobre as pessoas vivendo com HIV/aids e a conscientização dos jovens sobre comportamentos seguros de prevenção. Para isso, o tema da campanha será: “O preconceito como aspecto de vulnerabilidade ao HIV/aids”.