terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Carlos Renan Kurtz, presente!

por Diorge Alceno Konrad
Professor associado do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFSM, doutor em História Social do Trabalho pela Unicamp


Na última quinta, dia 17 de dezembro, faleceu Carlos Renan Kurtz, 78 anos, 
ex-presidente da antiga Federação de Estudantes Universitários de Santa Maria, 
entidade que hoje corresponde ao DCE da UFSM

Que grande perda para a história de nossa Santa Maria. Foi-se o presidente que destoava na UFSM dos anos 1960, dirigindo o Diretório Central dos Estudantes (DCE), incentivando o teatro universitário. Foi-se o vereador trabalhista, cassado pelo Golpe de 1964 por se opor à ditadura em nossa cidade. Foi-se o advogado trabalhista dos ferroviários durante a ditadura. Foi-se o político que, derrotado o regime, tornou-se deputado estadual pelo PDT e chegou à presidência da Assembleia Legislativa.


Em 1999, durante meu doutorado na Unicamp, pela primeira vez vi os originais do projeto Brasil: Nunca Mais no grandioso trabalho da Arquidiocese de São Paulo. Lá, está o nome de Carlos Renan Kurtz junto com outros santa-marienses cassados.

No ano passado, no Plenarinho da Câmara de Vereadores, em evento sobre a Lei da Anistia, organizado pelo Comitê Santa-Mariense da Memória e da Verdade, vimos ele lucidamente falar sobre o terrorismo de Estado pós-1964, falar do seu histórico de perseguição política, dizer aos jovens que não tivessem saudade daqueles tempos.

Em 10 de dezembro, tive a honra de participar do trabalho de conclusão de curso de Guilherme Garcia Teixeira, que versou sobre a luta por direitos dos ferroviários de Santa Maria durante a ditadura a partir dos processos trabalhistas. Lá, estava o nome de Carlos Renan Kurtz, ao lado de Saul Fagundes de Mesquita, defendendo um ferroviário suspenso dos trabalhos por não ter ido a uma passeata comemorativa do Golpe de 1964.

Estávamos na iminência de entrevistá-lo para o projeto Memorial da Justiça do Trabalho de Santa Maria, mas ele foi para o hospital antes dos primeiros trabalhos de gravação. Perdemos um pouco da sua memória, mas saberemos reconstituir a sua história e a sua importância para a Justiça do Trabalho em Santa Maria.

No seu velório, na distinta homenagem no prédio histórico da SUCV, no meio da emoção óbvia dos familiares e amigos, viu-se a despedida final daqueles para quem ele dedicou boa parte de sua vida e foi perseguido por isso. Lá, estavam os ferroviários de Santa Maria, tristes, chorando, sobreviventes de uma história que construiu parte do que é hoje o “Coração do Rio Grande” mas, sobretudo, sabedores de que Carlos Renan Kurtz sempre esteve ao lado da categoria.

Descanse em paz, querido Carlos Renan Kurtz. Que Santa Maria saiba, cada vez mais, que você foi um grande brasileiro sem se dobrar aos algozes de nosso povo. Carlos Renan Kurtz, presente!