sábado, 12 de março de 2011

Semana da calourada do CCS 2011/1 – Espaço Cultural Exposição fotográfica – EL IMPENETRABLE

Por Rafael Cabral Macedo*


Muitos são os pontos de vista nesse imenso mundo, tantos são que para saber quando foi o começo da história dessa exposição devemos refletir profundamente no tempo e no transcorrer dos fatos. Se formos superficiais podemos dizer que essa história começa em 2010 no dia em que eu, Rafael Cabral Macedo, estudante de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria, fui escolhido para participar de um programa de Intercâmbio organizado pela Secretaria de Apoio Internacional em conjunto com outras universidades da America Latina na Universidade de Buenos Aires. Nesse Intercambio tive a oportunidade de vivenciar a realidade de outro país e cursar disciplinas que eu mesmo escolhi. Foi visando justamente a imersão total em tal realidade que elegi as matérias de Infectologia, Psiquiatria e Saúde Pública 2 com enfoque sociocultural. Creio que todas elas me adicionaram uma imensa bagagem, mas foi justamente na saúde pública que tive a oportunidade de conhecer Andrés Cuyul, um simpático professor chileno, mestre em saúde publica e responsável pelas questões indígenas da UNICEF. Em uma de suas aulas, esse professor nos explicou que estava organizando um projeto de extensão numa região chamada Impenetrable, na província do Chaco, nordeste da Argentina, o qual visava a capacitação de agentes de saúde Wichí (Povo originário da região) e estudantes de enfermaria do terciário de uma instituição chamada “Fundación Valdocco” em conteúdos e estratégias para prevenção de saúde em comunidades indígenas, assim como formação vivencial dos estudantes de medicina em trabalho comunitário e abordagem sociocultural da saúde em populações vulneráveis. Sem demora fui o primeiro a me inscrever e assim adentrei na maior e mais inspiradora experiência de minha vida, acompanhado por estudantes de medicina, psicologia, direito, trabalho social e trabalho audiovisual.


Durante as sete semanas que antecederam a viagem trabalhamos na preparação das oficinas de formação, fizemos estratégias de atuação em terreno, buscamos recursos e doações e estabelecemos dinâmicas internas de grupo para o desenvolvimento de um trabalho coordenado. Saímos no dia 27 de Novembro de 2010 de Buenos Aires e percorremos cerca de 1600Km passando pela cidade de J. J.Castelli (portão de entrada do Impenetrable) e chegando finalmente a Comandancia Frías, aonde fomos recebidos na Fundación Valdocco. Nas últimas 6 horas de viagem e nas demais outras que vivenciei a comunidade pude perceber o porquê do nome Impenetrable, primeiramente o terreno é constituído basicamente por terra e pó o que contribui para que os poucos rios da região sejam ricos em arsênio tornando-os inapropriados para consumo sendo a dependência do abastecimento hídrico quase exclusivamente das águas das chuvas. Em um segundo momento a chuva faz com que as ditas estradas tornem-se imensos atoleiros o que impossibilita o trânsito de veículos e de pessoas na região, o que ocasionou inúmeros episódios de atolamento do nosso ônibus mágico. Existe ainda a impenetrabilidade cultural, já que grande parte da população só fala Wichí, língua originária de seus antepassados indígenas, sendo essa uma das grandes importâncias dos agentes de saúde que são a chave para a transferência e contra transferência de conhecimento.


Durante uma semana pudemos ser inseridos na realidade local, pudemos ver de perto como a precarização e a privatização do sistema de saúde de todo um país influência e exclui aqueles que mais precisam de ajuda, podemos ver a importância de uma equipe interdisciplinar no atendimento básico da população, vimos que ainda existem pessoas morrendo por doenças já “erradicadas” e que sequer recebem atendimento, mas o que é mais importante de tudo, é que observamos e aprendemos com a força de um povo que luta para sobreviver contra as opressões tanto sociais como geográficas. Foram desses momentos de experiência, indignação e aprendizado que tive a oportunidade de guardar alguns momentos em minha máquina fotográfica.


Essa tem por finalidade mostrar que não é preciso ir até ao nordeste da Argentina para vermos que existe “Impenetrables”, basta tirarmos o véu que cobre nossos olhos e observarmos que em todos os nossos lados existem Impenetráveis, e que para mudarmos essa realidade são necessárias ações efetivas e não políticas assistencialistas as quais cobrem ainda mais nossos olhos e fazem com que sejamos condizentes com a desigualdade e injustiça. Façamos parte da mudança, sejamos a aurora dos novos tempos. Uni-vos!



*Acadêmico de Medicina da UFSM, DAMED e DCE da UFSM