terça-feira, 15 de maio de 2012

Por que a UNE me representa e, mais que isso, por quê a disputo?


Por Ariely de Castro*

É comum, no atual momento de organização do movimento estudantil brasileiro, escutarmos frases, ou até mesmo campanhas do tipo: A UNE não me representa. Com todo respeito a manifestação das divergências, mas, sendo coerente com a disputa política, digo, que este tipo de negacionismo é que não me representa. Também não concordo que a atual União Nacional dos (as) Estudantes, organizada sob a égide de uma política recuada, sem contato real com as lutas sociais no interior e nas bases das universidades brasileiras, seja o ideal daquilo que queremos, em termos de representatividade e combatividade estudantil e social.

É fato que há um entrelaçamento da condução da atual gestão majoritária da UNE com o governo, o que por óbvio causa um refluxo nas lutas e afeta a autonomia da entidade e das posições do movimento estudantil, num cenário de refluxo histórico de todos os movimentos sociais, este tipo de condição agrava mais ainda as possibilidades de enfrentamento ao capitalismo e de avanço nas conquistas estudantis.

Há concordância, em muitos pontos, a respeito dos problemas da UNE, o que não há concordância é com a estratégia de enfrentamento a estes problemas, não acredito que negar a importância desse instrumento histórico das lutas estudantis brasileiras seja o caminho, pois se ele não for usado por um projeto com firme posicionamento em defesa da classe trabalhadora, entendendo que dentro de uma sociedade burguesa os interesses de classes são inconciliáveis, certamente a entidade será usada por outro tipo de projeto, reformista ou pior: burguês, tendo em vista a pluralidade de forças que se organizam no seu interior, por tanto, o caminho pra mim é disputa, a disputa por hegemonia, disputa por dentro, mas sobretudo por fora da entidade, chegando nas bases de organização estudantil, com formação política e ação organizada, respeitando a coerência entre aquilo que se deseja alcançar em termos de lutas e transformações sociais e aquilo que fazemos pra que isso seja concretizado.

Em outras palavras, não negamos a importância desse instrumento histórico, que representa o acúmulo das forças nas lutas dos estudantes no Brasil, e que por isso mesmo ainda possuí forte referência nacionalmente e internacionalmente, e é exatamente por reconhecer essa importância que precisamos disputá-la.

É lamentável que algumas forças políticas que se organizavam e outras que ainda se organizam no interior da entidade, que poderiam estar se somando a um bloco de oposição e aumentando as possibilidades de retomada da entidade, pela esquerda, por meio de um projeto verdadeiramente revolucionário e transformador, tenham tomado caminhos mais fáceis: o primeiro de abandonar a entidade e não mais disputá-la, criando uma entidade paralela isolada, que representa basicamente as opiniões de um partido político sem base, o que não ajuda a solucionar os desafios colocados para o movimento estudantil. O segundo é reduzir suas ações políticas na UNE para meramente garantir espaços na direção da entidade, rebaixando e muito o porque de se organizar nesta, beirando o fisiologismo tão conhecido da direita brasileira, nesse último caso, considerando as forças que ainda se organizam na UNE.

Entretanto, a história é uma magnífica composição, não linear que nos dá muitas possibilidades de pensar ações. Vivemos um momento em que há um aumento inegável das contradições no interior das universidades, devido em parte pelo constante movimento de mecantilização da educação, tanto nas universidades públicas, quanto nas particulares, mas, ao mesmo tempo também pelo acesso de estudantes das classes mais baixas às universidades. É por meio da renovação política, do diálogo e da disputa de mentes e corações, deste novo perfil de estudantes é que poderemos acumular forças para trazer de volta aos caminhos das lutas sociais a nossa entidade estudantil: A União Nacional de Estudantes!

*Estudante de Serviço Social - Universidade Católica de Brasília
Coordenadora de Formação política e movimentos sociais do DCE UCB