No dia 22 de outubro, a sociedade brasileira assistiu a mais um ato covarde de machismo e opressão, quando a estudante de turismo, Geisy Arruda, da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), sofreu de forma violenta uma perseguição que a obrigou a sair da faculdade escoltada pela Polícia Militar supostamente em razão do vestido que usava.
As matérias veiculadas na mídia mostraram novamente o mesmo vestido, abriram espaço para a discussão sobre os trajes a serem utilizados pela mulher dentro do “ambiente de estudo” e ignoraram quase que completamente o tamanho da barbárie cometida por alunos e até mesmo por funcionários da instituição. Mais que isso, trataram com indiferença uma desigualdade histórica de gênero que ainda hoje referencia a mulher como objeto de dominação, exploração e desrespeito.
Essa seqüência de agressões e abordagens machistas, manifestadas de forma violenta e vulgar, serviu para confirmar a realidade de um preconceito primitivo, de cunho sexista e subjacente na estrutura social.
Na nota, cujo título afirma que “educação se faz com atitude e não com complacência”, a Universidade Bandeirante justificou que foi o comportamento da estudante que deu origem às cenas de selvageria que assistimos. Em outras palavras, se a aluna não estivesse vestida inadequadamente, os demais estudantes, de ilibada moral, não teriam defendido o ambiente de estudo com tanta prepotência.
Agindo com hipocrisia para manter o lucro, além de isentar os alunos envolvidos na agressão e tratá-los como inocentes 'aviltados' que apenas agiram em nome da 'defesa do ambiente escolar', a Uniban expulsou a aluna de forma arbitrária e indesculpável para defender a própria receita e a relação de comércio tão bem alimentada por alunos que não ensinou a pensar, a respeitar as diferenças, a discutir a diversidade e a agir com respeito, como deveria ocorrer em qualquer ambiente universitário.
Mais que meramente comercial, o ato despótico e preconceituoso da expulsão tenta naturalizar o despropósito de opressões machistas e das relações de poder nas quais mulheres subjugadas devem retrair-se perante o poder masculino e resguardar seus corpos, para que qualquer atentado violento não venha a ser justificado pela própria exposição.
É essa a realidade da sociedade brasileira, da classe supostamente intelectual de parcela dos nossos universitários e, sobretudo, da condição feminina, sobre a qual se posicionaram os “educadores” para que permanecêssemos reduzidas a meros objetos.
A revogação da expulsão anunciada apenas comprova a inexistência de argumentos plausíveis diante das cobranças do MEC, da UNE e da sociedade para que a Uniban justificasse a ação irresponsável e mercantilista anunciada no domingo. De fato, a universidade mostrou-se incapaz de justificar um ato que, somado ao viés apelativo da grande mídia, apenas visava garantir a continuidade e a reprodução do machismo, da opressão e da violência em uma sociedade desinteressada em punir seus verdadeiros culpados.
Por essa razão, o Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal de Santa Maria repudia a violência cometida contra a aluna Geisy Arruda, bem como a decisão de expulsão, agora revogada com o único intuito de ocultar a conivência da Universidade Bandeirante com a ação preconceituosa, sexista e opressiva de seus estudantes.
DCE UFSM – Gestão Avante 2009/2010