domingo, 25 de maio de 2014

A democratização do acesso à UFSM: porque defendemos as Cotas e o SiSU

Na manhã desta quinta-feira, dia 22 de maio, a UFSM debateu no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) as formas de ingresso à universidade para o ano de 2015. Nesta discussão foram aprovados dois pontos de suma importância: o primeiro deles se trata da regulamentação da Lei 12.711 (Lei de Cotas) e o segundo quanto a instituição de 100% das vagas via SiSU (Sistema de Seleção Unificada).

Na UFSM já tínhamos 40% de cotas desde 2007, antes mesmo da Lei de Cotas (Lei 12.711), porém, passados quase 7 anos, somente agora em 2014, com incentivo da lei, conseguimos avançar para 50%. Essa é uma vitória importante, pois assegura o direito ao ingresso na universidade para estudantes de escolas públicas com recorte étnico-racial e de renda. Alertamos, no entanto, que 50% não é suficiente. Enquanto estudantes de escolas públicas, negros e negras, indígenas, portadores de necessidades especiais forem minoria no ensino superior defenderemos as políticas de inclusão.

Vivemos num país em que 85,4% dos estudantes da educação básica estão matriculados em escolas públicas, se invertendo no ensino superior em que do total de 5.95 milhões de estudantes, apenas 1,52 milhão provém de escolas públicas. O que explica esta inversão?

O que explica um país onde a pobreza e a exclusão tem cor? O que explica o fato de conhecermos pouquíssimos médicos, advogados e engenheiros negros? O que explica no ensino médio e nas universidades o reduzidíssimo número de professores negros? O que explica termos ainda pouquíssimos negros nas salas de aula das universidades brasileiras?

São estas questões que as ações afirmativas vêm responder. São estas questões que as ações afirmativas visam solucionar.

No que se refere ao debate do acesso via SiSU, compreendemos como um grande avanço a aprovação ocorrida na sessão desta semana no CEPE. Agora a UFSM entra num circuito já composto por cerca de 80% das universidades federais brasileiras que aderiram ao SiSU como método de ingresso. No estado, das sete universidades federais existentes, seis já aderiram 100% via SiSU, são elas: UFPEL, FURG, UNIPAMPA, UFCSPA, UFFS e UFSM.

Alguns dados apontam que cerca de 80% dos estudantes do ensino médio no Brasil realizam a prova do ENEM. Diferentemente do extinto vestibular da UFSM que privilegiava os estudantes que tinham condições de acessar a rede de cursinhos pré-vestibulares e escolas privadas da cidade, o ENEM/SISU possibilita aos estudantes das camadas menos favorecidas da nossa região e da nossa própria cidade sonharem em entrar na Universidade Pública e Federal.

O vestibular como método de ingresso não demonstrou capacidade suficiente de democratização do acesso, nem de vincular a UFSM a um conjunto de demandas regionais e muito menos de qualificação do ensino médio. Em nossa opinião, pensar a regionalização da universidade vai muito além de se fazer perpetuar um método de ingresso que só serve como reserva de vagas para uma parcela da elite local e regional. Pensar a vinculação da universidade com o desenvolvimento regional significa abrir suas portas, democratizar seu acesso e contribuir com o enfrentamento das desigualdades sociais. Aproximar de fato a universidade da comunidade local e dos problemas reais da sociedade.

A grandeza da universidade e o papel que pode cumprir na sociedade não pode se resumir a suprir os interesses mesquinhos de um empresariado local, atrasado e dependente de um evento de 3 dias. Se Santa Maria até então está refém destes tipos de interesses, a UFSM hoje está rompendo com as correntes da tradição e da dominação desta elite local.

Entendemos que outros agentes interessados na manutenção do tradicional vestibular são os cursinhos pré-vestibulares. Estes são os reais inimigos dos estudantes porque reduzem a educação à capacidade de memorizar esquemas e resumos. Os cursinhos agora se quiserem seguir existindo terão que, ao menos, ensinar a interpretar. Ao mesmo tempo em que os estudantes que não tem tempo ou dinheiro para ficar decorando terão mais perspectivas de ingressar na universidade.

Quanto aos estudantes que se preparavam para prestar vestibular, acreditamos que estes devem refletir sobre o porquê do sistema  de seleção das universidades, porque ainda a universidade pública é um espaço para poucos. Defendemos um maior investimento na educação pública, sabendo que isso não impede a discussão sobre o papel da universidade e a democratização desta. Para além disso, reconhecemos a importância da implementação de um ingresso exclusivamente via SiSU para o desenvolvimento de uma educação pública de qualidade, uma vez que as escolas terão a possibilidade de trabalhar o plano pedagógico do ensino médio e não estarão mais arraigadas aos métodos e conteúdos impostos pelo processo do vestibular.
Por fim, afirmamos que desastre, senhor prefeito, é a mercantilização da educação. Desastre é o ensino fundamental público da cidade, em momentos como o da entrega da administração da escola Renato Zimerman ao Instituto Palloti, mostrando a ineficiência e ineficácia da atual gestão da prefeitura. Desastre ERA o processo do vestibular.

Nesse debate, nós do DCE/UFSM, já escolhemos o nosso lado: estamos do lado dos milhares de estudantes de Santa Maria e do Brasil, que concorrerão a uma vaga nessa universidade pública que historicamente privilegiou uma minoria através do processo seletivo e injusto do vestibular. Defendemos uma universidade pública, que seja de qualidade, democrática e popular.

DCE UFSM - Gestão É Tempo de Avançar